Nubya Garcia

Nubya Garcia

O jazz que desce do pedestal e faz o chão tremer. Nubya Garcia fala sobre a “resistência da lentidão” e a conexão ancestral com a percussão brasileira.

Nubya Garcia não faz “jazz de museu”. O som da saxofonista londrina recusa vitrines. Ele foi forjado na cultura de sound system, no peso do grave e na vibração física do dub. Em um mundo fragmentado por vídeos de 15 segundos, o novo álbum Odyssey surge como um ato de resistência, uma obra que exige tempo, pausa e imersão. Nesta conversa, ela fala sobre a influência do instinto de DJ na improvisação, a familiaridade de seu corpo com a percussão brasileira e a necessidade de “fincar o pé” na lentidão. Para preparar os ouvidos e o corpo, ela montou uma playlist exclusiva que une o jazz ao peso do subwoofer.

Lísias Paiva, editor-fundador

Nubya, seu som nasce em Londres, mas não daquela versão higienizada e acadêmica da cidade. Ele vem do peso dos sound systems, do dub e da pista de dança. O que acontece com a sua música quando ela retorna a um espaço cru e vivo como o Matiz, onde a vibração bate no corpo e o suor é real?
Nesse tipo de espaço, minha música consegue ser verdadeiramente viva, crua e tão energética quanto o público que está ali. Eu amo que as pessoas se sintam livres para amar como quiserem e absorvam toda a energia e todas as vibrações. Para mim, é muito bonito compartilhar esse espaço com a audiência.

Além de saxofonista e compositora, você é uma seletora. Esse mindset de DJ — de ler a pista, gerenciar a energia e a tensão — muda a forma como você improvisa ao vivo? Ou esses dois modos criativos operam em lugares diferentes na sua cabeça?
Para mim, eles estão muito ligados. São a mesma coisa, apenas um pouco diferentes. Estou sempre observando e atenta às mudanças de energia na sala, pensando em qual direção precisamos ir: continuar pressionando ou ter um momento de pausa suave para recuperar o fôlego… Trata-se de equilíbrio no set e na jornada musical, tanto discotecando quanto improvisando.

Seu álbum Odyssey é uma obra que respira devagar e exige imersão. Em um mundo fragmentado de clipes de 15 segundos, o que significa lançar um corpo de trabalho que pede tempo? É uma escolha puramente estética ou é também um ato de resistência?
Que pergunta linda, e é algo em que penso frequentemente. Estamos tão consumidos por pequenos trechos e pela atenção curta. Precisamos realmente tomar mais tempo, pausar, absorver de verdade. Acho que é um ato de resistência para mim; eu escolho “fincar o pé” um pouco e fazer música devagar. A música merece isso.

Londres e São Paulo compartilham esse pulso caótico, diaspórico e imprevisível. O que o seu saxofone procura quando encontra o ritmo de uma nova cidade? Existe algo na percussão brasileira que fala a mesma língua das suas raízes no sound system?
Ah, com certeza. Eu passei bastante tempo no Brasil e ouvi muita percussão brasileira bonita e inspiradora que me atrai, quase como se meu corpo já a conhecesse de antes.

Entre o improviso, o silêncio e a sobrecarga de ruído digital, como você lida com sua própria “curadoria interna”? O que te ajuda a “resetar” os ouvidos e voltar para um espaço criativo verdadeiro?
Tirar um tempo para mim mesma, outras práticas criativas, rejuvenescer. Eu ouço muita música diferente. Estou sempre buscando um equilíbrio para esse estilo de vida.

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Agradecimentos: Tim Adams (On Agency)

Fotos: Mariana Pires

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