Maria Beraldo

“Não se pode abandonar o ringue.” Maria Beraldo sobre a arte de não fazer concessões e a estratégia de quem rema contra a maré.

O mercado de música hoje é um ‘ringue’. E Maria Beraldo não vai abandoná-lo. Enquanto o cenário digital exige o impacto rápido, sua música pede o oposto: uma escuta atenta, nascida de uma pesquisa verdadeira e sem concessões. A recente indicação ao Grammy Latino é vista não como um prêmio, mas, como ela mesma define, ‘força para seguir remando contra a maré’. Convidamos a Maria para uma conversa sobre essa estratégia de ser uma ‘plantinha que nasce no concreto’ e a coragem de ‘se despir’ por inteiro. Como soa a ‘coragem de ser vulnerável’? A playlist que ela criou em resposta a essa provocação está logo abaixo. A conversa completa sobre o poder do coletivo e a arte de se manter no trilho vem a seguir.

Lísias Paiva, editor-fundador

Sua obra solo é marcada por uma vulnerabilidade corajosa, celebrada inclusive com uma indicação ao Grammy Latino. Como é ver um trabalho tão íntimo alcançar esse tipo de reconhecimento?
Fico muito feliz em ver meu trabalho, que é tão visceral e feito da pesquisa mais verdadeira, sem concessão estética alguma para conquistar qualquer coisa, ser reconhecido num prêmio desse tamanho. Ajuda muito a me manter nesse trilho, que é o de remar contra a maré, o que bem sabemos, cansa. Esse reconhecimento vem para dar forças de seguir nesse caminho.

Sua música pede calma e entrega. Como é fazer uma arte que exige escuta profunda prosperar em um ambiente digital que valoriza o impacto rápido?
É muito cansativo. Ao mesmo tempo, não se pode abandonar o ringue. A lógica do mercado hoje é totalmente ligada às redes sociais e algoritmos. Eu preciso viver da música que faço e ela também só acontece se chega no público, preciso dessa troca, e nesse sentido estamos cercados. É realmente um desafio espalhar uma música que fuja às lógicas do mercado. Mas não se pode abandonar o ringue. Não podemos dar o braço a torcer. É como uma plantinha que nasce no concreto. Nós somos essa plantinha. A gente vai criando nossas tecnologias para nos comunicarmos embaixo do solo, vamos nos nutrindo uns aos outros e seguimos. Sinto que, mais do que nunca, precisamos de estratégia.

Você já colaborou com artistas como Arrigo Barnabé e também construiu uma obra muito autoral. Como essas duas experiências se alimentam?
Sinto que a dinâmica entre estar junto e estar sozinho é uma elaboração importante na vida. Os espaços de construção coletiva alimentam por demais aqueles da criação individual, para mim. E também encontrar o espaço de individualidade na própria criação colaborativa ajuda muito nos trabalhos em grupo. Sinto como um ciclo virtuoso. Eu gosto muito de criar junto, de aprender com meus colegas. Sempre tive bandas e hoje só uma (a Quartabê). A criação coletiva é um exercício árduo e delicioso, é também um exercício político de horizontalidade onde nenhuma voz fala mais alto que a outra. O tempo que trabalhei com o Arrigo mudou a minha vida completamente. Foi quando comecei a compor, inclusive. Arrigo é como uma escola para mim.

Sua música cria uma conexão íntima com quem escuta. Qual é a principal conversa, ou semente de afeto e inquietação, que você deseja plantar no ouvinte?
Confesso que não penso muito no ouvinte quando estou fazendo minha música. Acho que essa conexão íntima vem do fato de eu me entregar muito, de eu me despir, de eu de fato abrir minha intimidade, seja uma história contada ou um acorde que seja o meu preferido. É muito difícil se entregar completamente se você fica pensando no que os outros vão achar. Então sinto que a semente que eu quero plantar nos ouvintes é a da disposição para a comunicação. A da disponibilidade para nos ouvirmos mutuamente, nas nossas estranhas, diversas e infinitas naturezas.

Fotos: Ivi Maiga Bugrimenko

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Agradecimentos: Dobra Música pela parceria

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