
Para ela, os astros podem ser divertidos, irônicos e nada solenes. Descubra a astrologia sem o peso de ser guru.
Para traduzir os astros sem o peso de ser guru, Bruna criou a persona Madama Brona. É um alter ego que lhe permite navegar pela astrologia e o autoconhecimento com a mesma dose de profundidade e deboche, entendendo que o riso pode ser uma ferramenta tão poderosa quanto a reflexão. Seu trabalho investiga a busca por sentido em tempos frenéticos, propondo que a espiritualidade pode ser uma linguagem poética para organizar o pensamento e contar a própria história, sem a obrigação de ter todas as respostas. E é nesse universo de reflexão e leveza que a convidamos a compartilhar uma playlist muito particular: uma seleção de músicas que acompanham suas jornadas astrológicas, que a fazem rir, refletir ou simplesmente sentir a energia dos astros. Dê o play na playlist e desvende os astros com o ritmo de Madama Brona.
Como a persona Madama Brona te ajuda a comunicar astrologia e cartomancia de um jeito só seu? Qual a principal busca ou “nóia” que você sente nas pessoas que procuram seus horóscopos e consultas?
Acredito que criei essa persona para me sentir mais livre e também porque é divertido criar um universo, um personagem que faz parte de mim, mas que também me ajuda a delimitar o que é trabalho e o que é do meu círculo pessoal e íntimo. Como trabalho com ferramentas de cuidado e autoconhecimento, às vezes as pessoas me confundem, como se eu mesma já tivesse alcançado uma grande consciência e tivesse uma vida super equilibrada. Ter a persona Madama ironiza isso e me tira esse peso de ter que ser sempre correta e me levar tão a sério, porque nem eu nem a minha persona somos esse equilíbrio todo, muito pelo contrário (risos).
A meu ver, a principal busca das pessoas que acompanham meu trabalho é a antiga busca por sentido. O sentido da vida, os sentidos que damos para o que nos acontece, formas de organizar e contar nossa própria história. Tudo isso para que consigamos ter uma noção do que estamos construindo e para onde queremos ir. A astrologia trabalha com mapas, e não é à toa. Precisamos nos localizar no mundo e na nossa própria vida. E essa busca de sentido se dá de vários jeitos: às vezes com conversas mais profundas, às vezes rindo de algo e, assim, acessando o que nos parece difícil de encarar. O riso nos aproxima da nossa verdade e pode parecer superficial, mas também pode ter um efeito transformador.
Como você descobre e escolhe as músicas que te inspiram ou que criam a atmosfera certa para seu trabalho, fugindo das playlists prontas dos algoritmos?
Desde criança, amo conversar sobre música e estou sempre trocando referências com meus amigos. Gosto também de conhecer a história de cada artista, entender o contexto em que um álbum foi lançado e escutar um álbum do começo ao fim, várias vezes. Depois disso, vou escolhendo as minhas preferidas e fazendo minhas playlists. Às vezes, fico obcecada por semanas escutando as mesmas músicas. Então, enjoo e vou para outro mood; aí, acabo descobrindo algum artista novo e recomeço o ciclo. Música é muito importante na minha vida, é uma bruxaria muito especial.
Como comunicadora, que tipo de “futuro mais desejável” você mais se empenha em ajudar a construir ou inspirar com sua comunicação?
Vejo que faz parte do meu trabalho construir uma comunicação que seja genuinamente minha, para que eu possa ser quem eu sou. Sempre me inspira ver pessoas verdadeiras, e acho que isso é algo bom de se passar para frente. Também tenho noção da responsabilidade em trabalhar com comunicação hoje e, por isso, tento me manter bem informada, penso antes de falar ou de dar alguma opinião sem fundamento. Gosto de pensar na utilidade do que estou comunicando e colocando na internet, porque hoje em dia tem muita coisa, muita repetição, muita superficialidade. E eu gosto de uma boa superficialidade, mas ela precisa pelo menos fazer alguém rir ou pensar sobre si mesmo de um jeito diferente, sem se levar tão a sério. Acho que esse excesso de informação está nos consumindo. Tento ser seletiva e levar meu trabalho para um lugar que seja verdadeiro e, ao mesmo tempo, faça sentido para quem está recebendo. Hoje em dia, penso que menos é mais.
Na sua percepção, o que mais mudou na forma como as pessoas buscam e se relacionam com conteúdos sobre espiritualidade e autoconhecimento hoje?
Me parece que existe uma divisão em dois grupos: pessoas que só querem confirmação do que já pensam, massagem no ego e a ilusão de certeza. Elas não querem pensar, e isso não está nada bem. Precisamos começar a pensar, até porque espiritualidade sem filtro crítico se torna ferramenta de alienação. As coisas podem ficar perigosas, e já vemos isso acontecer nessa onda de pessoas levando a sério teorias de conspiração ridículas. Está cada vez mais difícil discernir o que é real e o que não é. As pessoas precisam começar a pensar de forma mais realista. Também percebo que existe outro grupo de pessoas que se interessam em refletir, buscam inspiração, mas sem se iludir de que as coisas vão cair do céu, sem cair em delírios, encarando as dificuldades da real experiência de existir neste mundo. O real já é muito doido, tem suas belezas, mas também tem muitas dores, vazios e dificuldades. Muitas pessoas estão amadurecendo sua visão de mundo, e a espiritualidade e o que chamamos de autoconhecimento entram nesse movimento de maior profundidade. Com esse grupo, acho que estamos conseguindo ser mais reais, mais pé no chão, assumir nosso lado menos iluminado e ter mais sinceridade sobre a nossa humanidade.
Qual mito ou ideia errada sobre astrologia ou cartomancia a Madama Brona adoraria quebrar, talvez “com um toque de glitter e deboche”?
Adoraria que as pessoas realmente soubessem que astrologia não é só signo, é muito maior do que isso e que signo não define o caráter de ninguém (risos). Eu sei que é uma obviedade, mas fico na dúvida. Também queria que as pessoas entendessem que a astrologia é também linguagem, um jeito de falar sobre as coisas, de começar conversas e organizar o pensamento. Não necessariamente é só algo místico. É também poético e uma verdadeira ferramenta de linguagem. Na minha opinião, essa é a abordagem mais interessante. E isso vale para o tarô também.
Se você pudesse dar um único conselho ou “ensinamento das cartas/astros” para quem busca mais intuição e magia no dia a dia em 2025, qual seria?
Essa é difícil! Mas eu diria que é fazer as pazes com o tempo das coisas. Vivemos em um momento frenético, tudo é acelerado, mal temos tempo de respirar, é tudo para ontem, e isso é desesperador. Nesse ritmo, é difícil sair do automático, e o automático que estamos reproduzindo é destrutivo. Vamos respirar, vamos nos acalmar, por favor? O mundo não precisa acabar. É tudo uma questão de ponderação, imaginação e ações, mesmo que pequenas, mas focadas e com propósito. Mas, para isso dar certo, precisamos de um pacto coletivo. Não dá para ficar nesse individualismo delirante; o ser humano é coletivo, faz parte de algo maior.
Fotos: Leonardo Araujx