
Para Letrux, a palavra é o pulso, o invisível é o guia e a reinvenção é um transbordamento inevitável da vida.
A arte de Letrux é guiada por um pulso forte, a palavra. Seja na música, na literatura ou na performance, é o verbo que comanda, um fio condutor que ela herdou de uma vida atravessada pelo “invisível” e pela espiritualidade. Suas transformações a cada álbum não são uma decisão estética, mas um “transbordamento” natural. Ela se define como um “bicho solto” no palco, fiel às suas “brisas poéticas” e sustentada por um público que a encontrou para além dos algoritmos. Nesta conversa, a artista fala sobre seu processo criativo e as dualidades que a movem. Seu “Lado A” é a gratidão solar de Djavan; o “Lado B”, a densidade misteriosa de Lhasa de Sela. Para ilustrar esse universo que vive “entre o grito e o sussurro”, ela montou uma playlist que espelha sua arte, oscilando da delicadeza íntima à catarse visceral. Ouça e leia Letrux!
Letícia, sua arte transita pela música, literatura e performance, mas sempre parece guiada por um mesmo fio invisível. Hoje, qual é o coração que pulsa mais forte dentro da sua criação?
O invisível sempre foi muito presente, pois sou filha de um médium da Umbanda, então cresci com a ciência, vacinas, remédios, mas também com recados do além, passes, avisos, trabalhos. E eu sou testemunha de que minha vida sempre foi melhor com essa combinação do invisível. Toda vez que deixei de lado, piorei ou afundei. Existe um elo que se dá na palavra. A palavra é primordial em qualquer especulação artística minha. Ela é o pulso, o coração.
Sua persona artística se transforma a cada álbum. A Letrux de Em Noite de Climão não é a mesma de Aos Prantos ou de Mulher Girafa. Esse processo de se reinventar é consciente, como uma decisão estética, ou acontece como um transbordamento inevitável da sua vida?
A estética é a última coisa que penso, é quase como se fosse apenas embrulhar para presente. Mas antes precisamos elaborar qual vai ser o presente. Como qualquer ser humano, temos fases, dinâmicas. Há estados mais perenes nas nossas vidas, ciclos que se alongam, e que alegria tudo isso. Mas há muitos trânsitos também, e tudo bem. Importante saber lidar. Como artista, procuro manter minha antena conectada e vou sentindo e me reinventando. Gosto de brincar.
Num mundo de dancinhas virais e consumo apressado, como uma obra tão literária e visceral como a sua encontra espaço para respirar e ecoar?
Sou muito sortuda. Claro que não fui catapultada para o Brasil inteiro como outras figuras, mas ainda assim, me sinto sortuda. Há muitas pessoas que transam meu som, minha literatura. Tenho um público interessado e interessante. Acho que eu também me mantenho fiel a algumas coisas. Fiz concessões? Algumas, mas continuo postando meus textos enormes, minhas brisas poéticas, então quem quiser ver isso, sabe que eu ofereço isso.
No palco, corpo e voz são inseparáveis. Como funciona o processo de transformar um texto íntimo, escrito quase em segredo, em gesto, grito, suor e performance diante da plateia?
Não há segredo no palco. Ainda que haja, parece que tudo ganha vida, toma luz. Adoro o processo de levar um show apenas ensaiado para o palco. Como vou me portar, como vou lidar? Há muito ensaio e elaboração, mas também sou bicho solto e amo improvisar e ver o que o espontâneo me reserva.
Se sua vida fosse um vinil, qual faixa estaria no lado A (aquela que você mostraria para o mundo) e qual ficaria escondida no lado B, guardada só para quem souber ouvir até o fim?
No lado A, acho que teríamos Djavan cantando “Muito Obrigado”, estou nessa fase intensa de agradecer todas as benesses que recebi. E no lado B, teríamos Lhasa de Sela, “I’m Going In”. Música densa de uma artista que nem está mais aqui nesse planeta, mas que eu amo imensamente.
Fotos: Bruna Latini
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