
Karine Teles e a arte como condição humana. A música como um remédio que nos lembra do essencial.
Karine Teles navega o audiovisual com uma sensibilidade que não separa a roteirista da atriz. Ela entende o ofício como um gesto de humanidade, uma “capacidade mágica” que nos conecta com o que a linguagem comum não alcança. É um trabalho que busca “discutir o que não é discutido”, seja em suas próprias histórias ou em papéis de grande repercussão, como sua recente interpretação de Aldeíde Candeias. Mas quando as demandas mentais são muito fortes, é a música que a acompanha. Karine usa o som como seu “remédio total”: uma ferramenta para modificar o humor, focar a criação e se manter presente. A conversa completa sobre a arte como condição humana está logo abaixo. A playlist que é o seu “remédio sonoro” acompanha a entrevista.
Lísias Paiva, editor-fundador
Karine, seu trabalho como atriz e roteirista é marcado por uma entrega a personagens e histórias que espelham as complexidades e as nuances do Brasil. Qual é a principal inquietação ou o tema humano que mais te move e te impulsiona a contar novas histórias e a dar vida a novas narrativas?
Quando eu estou fazendo as minhas próprias histórias, escrevendo meus próprios roteiros, eu vou querer falar de coisas que eu quero discutir e que eu não vejo sendo discutidas. Então, eu vou procurar criar histórias que falem de coisas que me incomodem ou que me chamem a atenção, que me interessem e que eu não vejo essas discussões acontecendo em outros lugares. Como atriz, tem uma série de coisas que podem me atrair para um novo trabalho, desde esse tipo de desejo, de discutir o que aquele trabalho está querendo discutir, até algum profissional envolvido com quem tenha interesse artístico, vontade de trocar e compartilhar.
Às vezes, então, eu escolho um trabalho porque é o que tem disponível para ganhar dinheiro. Já preferi um trabalho que eu ganhasse menos, mas que eu achasse mais interessante do que um trabalho que eu ganhasse mais e que eu não achasse artisticamente tão interessante, ou achasse que o discurso da narrativa era complicado. Enfim, eu acho que eu dei sorte de não precisar abrir mão totalmente da minha visão artística, do meu próprio trabalho.
Você está no ar interpretando a Aldeíde Candeias no remake de “Vale Tudo”, uma novela e uma personagem icônicas da nossa teledramaturgia. Qual tem sido o maior desafio e a maior delícia em revisitar e trazer um “novo olhar”, como você mencionou, para uma personagem com tanto peso na memória afetiva do público?
A delícia de fazer Aldeíde de Candeias é a riqueza dessa personagem. É uma personagem com muitas camadas, muitas reviravoltas, frequenta vários núcleos. Então, ela tem um comportamento no trabalho, um comportamento em casa, um comportamento com a amiga, um comportamento quando sai, vai para as baladas. É uma profusão de oportunidades de brincar cenicamente. E o maior desafio é navegar esse mundo de internet de hoje em dia, em que todo mundo tem opinião sobre tudo. E o lado bom disso, que a gente tem acesso aos comentários das pessoas, também é o lado ruim, onde tem um hate, uma agressividade, que é uma coisa tóxica e não ajuda no trabalho de ninguém. Então, eu tento me manter protegida.
No deepbeep, exploramos os “mapas sonoros” de cada um. Como a música, a trilha sonora ou mesmo o universo sonoro dialoga com seu processo de criação como atriz ou como roteirista?
A música é uma companhia muito constante na minha vida. Eu gosto de ler, gosto de ver filme, gosto de ver série. Mas tem momentos na vida em que eu não consigo fazer nenhuma dessas coisas: quando eu estou com demandas mentais muito fortes, quando eu estou criando alguma coisa, quando eu estou me preparando para algum personagem. E aí, nesses momentos, é a música que me faz companhia. E eu sou muito eclética, mas eu sinto que a música tem o poder real de modificar o meu humor. Então, às vezes eu posso estar muito cansada, boto uma música que me anima; posso estar precisando concentrar, boto uma música que me foca. A música pra mim é remédio total.
Seu trabalho ilumina questões sociais importantes. Qual você considera ser o papel e a potência do cinema e da teledramaturgia brasileira hoje para provocar reflexão, fomentar a empatia e inspirar transformações sociais, especialmente ao retratar as diversas realidades do país?
A teledramaturgia, a arte em geral, é parte da condição humana. A gente é muito limitado no sentido do que a gente consegue comunicar através da linguagem. Ela faz a gente entender coisas através dessa experiência artística que eu acho que não está diretamente conectada ao que a gente consegue falando ou escutando alguma coisa. Acho que a arte tem essa capacidade mágica.
Como é que a sociedade, um ser humano, consegue viver sem alguma expressão artística? Sem alguma expressão artística, sem sentir necessidade de experimentar ou de expressar? A gente não é gente sem isso.
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Aqui no deepbeep, cada entrevista vira uma playlist. Cada playlist, um jeito novo de ouvir.
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