
Ele é a ponte entre a vanguarda da música global e o público brasileiro. Tim Adams fala sobre o desafio de defender a curadoria com alma em um mercado guiado por números.
Tim Adams é uma das principais pontes que conectam a vanguarda da música global ao Brasil. Com uma carreira dedicada a criar ecossistemas culturais, ele opera em um delicado equilíbrio entre a paixão pela curadoria autêntica e a pragmática realidade do mercado de shows. Para ele, o que importa é a música com “alma e profundidade”, uma visão que ele defende contra a lógica dos festivais guiados por números. Sua missão é levar o público a “viajar sem sair do lugar”, criando experiências que conectam a energia de diferentes cenas musicais do mundo. Nesta conversa, o produtor e curador fala sobre seu processo, os desafios do mercado e a importância das marcas como viabilizadoras de cultura. Para ilustrar a jornada sonora que propõe, ele montou uma playlist com artistas com quem já trabalhou, um set que viaja pelo soul, jazz, house e hip hop e que, como seu trabalho, fala diretamente à alma. Dê o play e viaje junto!
Você construiu uma carreira criando ecossistemas culturais muito antes dessa expressão virar moda. Qual é a sua filosofia pessoal para criar uma conexão autêntica, tanto para a marca quanto para o artista, sem que um lado apenas use o outro?
O mais importante é a música. Quero apresentar bandas e artistas diferentes, que não desejam soar ou imitar ninguém. A autenticidade é fundamental. O desafio é equilibrar qualidade artística com a necessidade prática de vender ingressos. Shows internacionais são caros por conta da moeda e da logística, então evitar prejuízo é essencial. No Brasil, é indispensável contar com marcas para equilibrar as contas. Viver apenas de bilheteria, sem patrocínio, é quase impossível no cenário econômico atual.
Seu trabalho envolve gerir e desenvolver projetos com grandes talentos da música brasileira. Quais são os seus critérios de curadoria? O que um artista precisa ter, além do som, para que você veja potencial em construir uma narrativa maior?
Para mim, a música sempre precisa carregar uma essência verdadeira. Não me atraem sons óbvios. É preciso ter alma e profundidade para se destacar. Hoje, muitos festivais parecem ter esquecido o papel da curadoria. O que vemos é mais uma programação guiada por números do que pela busca de uma visão musical consistente.
Imagino que um de seus maiores desafios seja defender o valor da consistência e do desenvolvimento a longo prazo em um mercado focado em métricas de impacto imediato. Como você argumenta a favor de um projeto com profundidade cultural, cujo retorno nem sempre é tão óbvio em uma planilha?
A consistência é tudo. Você só é tão bom quanto o seu último show. Expandir horizontes e mudar perspectivas precisam se refletir no trabalho. Busco trazer uma variedade de sons, do jazz ao jungle, do hip hop à house. Meu objetivo é explorar as muitas faces da música moderna, criando um conceito sem parâmetros rígidos. Quero apresentar constantemente novas visões musicais que desafiem fronteiras e limitações convencionais.
Sua trajetória de vida lhe deu uma bagagem cultural que transita entre a Europa e o Brasil. Como essa pluralidade de referências alimenta o seu processo criativo e a sua capacidade de construir pontes entre universos diferentes?
Sempre tive uma postura pouco convencional, que não segue os modelos tradicionais de negócios. Procuro cultivar um estilo de vida moldado por jornadas progressivas através da arte e da música do século XXI. Gosto de pensar nisso como “viajar sem sair do lugar”, levando as pessoas a uma experiência que as conecte a Londres, Paris, Tóquio, Kingston, Nova York, Lagos e, claro, ao Brasil.
Olhando para o futuro, qual você acredita que será o seu papel na evolução da relação entre música e marcas? Você se vê cada vez mais como um produtor de cultura, ajudando a transformar marcas em facilitadoras de novas cenas, artistas e ideias?
Meu sonho é fazer a curadoria de um grande festival de música, um evento com uma programação diversa, que fale diretamente à alma e acolha pessoas com diferentes interesses musicais. Adoro organizar turnês e trabalhar com música. Sempre digo que as duas melhores decisões da minha vida foram me dedicar à música e me mudar para o Brasil. Daqui para frente, quero continuar sendo um curador e programador dinâmico, com visão de futuro, mantendo minha filosofia musical essencial, conectando música e cultura e, claro, trabalhando com marcas que tornam tudo isso possível e ajudam a criar novos caminhos para a música.
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