Titi Muller

No caos das redes, ela propõe a vulnerabilidade como bússola e a conversa honesta como antídoto para a superficialidade.

Titi Müller é uma comunicadora que escolhe a conexão real. O nome de seu podcast, “Acessíveis”, já carrega essa intenção de provocar e quebrar barreiras. Para Titi, demonstrar vulnerabilidade não é difícil, mas sim um ato potente que gera um belo espelhamento. Em uma era de opiniões formadas em segundos e timelines repletas de certezas, ela defende o espaço para o “não sei” e para as fraquezas, desafiando a visão de que mostrar fragilidade é fracasso. Seja falando de um festival de música ou de um perrengue pessoal, Titi não tem medo de misturar o individual e o social, porque para ela tudo está interligado. Sua abordagem humana antes de ser apresentadora cria um diálogo fluido, permitindo que o público se sinta à vontade para refletir sobre suas próprias vidas, sem muros invisíveis. Ela segue nadando contra a correnteza dos algoritmos que premiam o extremo e a superficialidade, buscando sempre a nuance e a sinceridade para tocar e se conectar. Para ilustrar essa essência de vulnerabilidade, autenticidade e a constante busca por uma conversa real, Titi compartilha uma playlist especial. Dê o play e mergulhe nos sons que a inspiram a ser e a comunicar.

O nome do seu podcast, “Acessíveis”, é muito potente. Qual é, para você, a coisa mais importante (e talvez a mais difícil) de se tornar acessível hoje? É um tema tabu, uma linguagem sem academicismos, ou a coragem de se mostrar vulnerável?
O nome “Acessíveis” veio mesmo com essa intenção de provocar. Para mim, não é difícil demonstrar vulnerabilidade. Acredito que a coragem de se mostrar vulnerável é extremamente potente, se abrir para o outro gera um espelhamento muito lindo.

A gente vive numa era em que todo mundo tem opinião formada em três segundos, timeline cheia de certezas e zero espaço para dizer: “não sei” ou “tô me sentindo um lixo hoje”. Mostrar fraqueza ainda é visto como fracasso, e isso é uma loucura. Então, ser acessível, no meu caso, é dizer: “tamo junto nessa bagunça”, é descer do pedestal da pose, da voz professoral, e abrir espaço para a conversa real. Sem academicismo chato, mas também sem perder a profundidade. Mostrar quem a gente é de verdade exige coragem. Mas é ali, na pele exposta, que mora a conexão. E se não for para se conectar, a gente tá fazendo o quê aqui, né?

No seu trabalho, você não tem medo de misturar o pessoal com o social, falando de um festival de música com a mesma propriedade com que fala de um perrengue da vida pessoal. Como você navega essa fronteira? E por que, para você, é importante que essa mistura aconteça?
Para mim, tudo é interligado. Quando a gente fala de cultura, de música, de festas, tem sempre algo do pessoal ali. Não tem como dissociar a experiência de um evento de um momento da sua vida. A vida pessoal e a coletiva estão tão entrelaçadas que falar de uma coisa sem a outra é praticamente impossível. Então, no meu trabalho, eu tento ser humana antes de ser apresentadora ou comunicadora. Acho que o papo flui mais e quem tá ouvindo se sente mais próximo. Eu falo da minha vida pessoal, do que é real para mim, porque isso cria um espaço onde as pessoas podem se sentir à vontade para também refletir sobre a vida delas, sem aquele muro invisível que nos separa às vezes. Quando, por exemplo, falo de um festival de música, não é só sobre a experiência “festa”, mas sobre como aquilo me fez pensar, me fez sentir e, claro, me fez me conectar com outras pessoas. Porque, no final das contas, não é a música ou a performance em si que fica, é o que ela desencadeia dentro da gente. Então, quando eu conto um perrengue pessoal, estou mostrando que, mesmo em momentos difíceis, há algo coletivo em tudo o que vivemos. Esse mix é uma forma de criar um espaço onde a gente possa dialogar sobre coisas que importam de verdade, sem firula. E, sinceramente, é onde eu acho que as coisas mais interessantes acontecem, no meio da bagunça e da sinceridade.

Você, como comunicadora, luta para criar conteúdo com nuance, enquanto os algoritmos parecem premiar o extremo, a briga e o take superficial. Como isso te afeta criativamente? Te cansa e desanima, ou te inspira a ser ainda mais criativa para furar essa bolha?
É um baita desafio. Não me interessa fazer conteúdo só pelo engajamento, pela polêmica ou pelo drama. Fico vendo e pensando: “Tá, isso é legal para o algoritmo, o quanto está apodrecendo o meu cérebro?” Às vezes dá aquele desânimo porque parece que a conversa mais profunda ou a crítica mais honesta fica escondida no meio de tanto ruído. É como se a galera estivesse cada vez mais preferindo o clickbait em vez de papo sobre como nos sentimos, sobre o que realmente está acontecendo na sociedade. E, como você falou, o algoritmo só quer que a gente brigue, crie cliques fáceis e vire meme. Quando você sente que tá nadando contra a correnteza e, mesmo assim, consegue furar essa bolha, é um triunfo. Não só para mim, mas pros outros também. Eu gosto de acreditar que, ao fazer algo mais pensado e com nuance, estou trazendo uma alternativa. Tem que ser uma forma de resistir, mesmo.

Qual costuma ser o clique que dá origem a um tema para o podcast ou para uma coluna? É algo que te tira do sério, uma conversa com uma amiga, ou uma percepção súbita sobre o comportamento coletivo que você simplesmente precisa botar para fora?
O clique geralmente vem de uma mistura de várias coisas. Mas a verdade é que, muitas vezes, é uma sensação que me pega de surpresa. Às vezes não é um estalo grandioso, mas uma intuição sobre algo que eu vejo acontecendo e que, no fundo, me incomoda. Pode ser uma percepção sobre como a galera está lidando com alguma situação, um comportamento coletivo que me parece muito ensaiado, ou até uma crítica que vejo, que me parece mais uma forma de se posicionar do que realmente entender o que está sendo discutido. E aí eu preciso botar para fora. Isso, geralmente, nasce de uma conversa. Pode ser uma ‘tretinha’ com amiga, um debate, ou até uma troca de ideias com alguém na rua, porque sou dessas que adora dar ouvidos pro que as pessoas têm a dizer. Eu vou sacando, pegando uns pedaços e montando, criando uma narrativa. Às vezes é tão espontâneo que a ideia surge quase que do nada, e nesse momento, é como se o podcast fosse uma válvula de escape. Ali, eu posso botar para fora tudo o que eu pensei sobre aquilo, de forma que, espero eu, toque outras pessoas também.

No fim do dia, depois de um podcast gravado ou um texto publicado, qual é a sensação que te dá a certeza de que seu trabalho valeu a pena? É uma mensagem de uma seguidora que se sentiu compreendida, é a certeza de ter provocado uma reflexão importante, ou algo completamente diferente?
No fundo, é isso que a gente quer: saber que o nosso trabalho, nossa voz, tem algum tipo de impacto. E no fim do dia, a sensação que me dá a certeza de que valeu a pena é quando eu sinto uma conexão real com alguém, mesmo que seja virtualmente. Eu acho que não tem nada melhor do que sentir que, ao botar alguma ideia no ar, ela fez alguém pensar ou se sentir menos sozinho, menos perdido. Porque a gente tá vivendo uma época onde todo mundo está sempre tentando se encaixar em moldes, parecer perfeito, e quando a gente se permite ser genuíno, quando alguém se sente tocado por isso, é como se tivesse valido a pena cada segundo.

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