Paulete Lindacelva

Paulete Lindacelva

A pista de dança como um lugar para ‘criar bons ouvintes’. Paulete Lindacelva sobre a pesquisa como risco e o ‘incômodo com a falta de nuances’.

Para o algoritmo, a pista de dança é um lugar de repetição. Para Paulete Lindacelva, é um espaço para ‘criar bons ouvintes’. Seu trabalho, focado nos sons da diáspora negra, é uma pesquisa constante que foge do óbvio. Ela é movida pelo ‘incômodo com a falta de nuances’ e pela coragem de se arriscar, confiando na inteligência de quem ouve. Convidamos a Paulete para uma conversa sobre essa filosofia, sobre o ócio como refúgio criativo e sobre sua produção autoral. Nossa provocação foi direta: crie a playlist ‘A Descoberta Inesperada’. O resultado é uma seleção de tesouros garimpados, faixas que transformam a pista em um espaço de surpresa. A playlist está logo abaixo. A conversa completa vem a seguir.

Lísias Paiva, editor-fundador

Paulete, sua pesquisa sobre os sons da diáspora negra é uma marca da sua carreira. Hoje, qual você enxerga ser a principal função da sua arte na pista de dança?
Acredito muito no ócio como uma espécie de espaço onde as pessoas recorrem não só como descanso, mas também como um lugar de refúgio criativo — para além do escape. No sentido musical, acredito que a pista seja um lugar para se criar bons ouvintes e revelar surpresas inesperadas.

Sua assinatura é um ecletismo radical que mistura gêneros e épocas sem pudor. Como você pesquisa e decide quais universos sonoros cruzar em um mesmo set e o que te fascina nessa liberdade de transitar entre mundos tão diferentes?
Digamos que eu sinta um certo incômodo com a falta de nuances. Amo viajar na ideia de atemporalidade e construir narrativas sonoras tidas como inesperadas, mas que se encontram com o desejo coletivo da pista, que é dançar.

Em um tempo de playlists previsíveis e algoritmos que nos prendem em bolhas, como uma DJ de pesquisa tão autoral consegue surpreender, educar e manter a pista viva?
As pesquisas sonoras são sempre uma aposta, e a única certeza que temos é que uma boa pista se faz com um bom ouvinte e com um olhar atento. A pesquisa nunca é suficiente quando você se arrisca.

Além da música, sua presença na cabine é performance. Como sua energia, humor e atitude se transformam em ferramentas para contar a narrativa de uma noite?
Acredito que sim. Acho que o que ouvimos, tocamos, vestimos e comemos é parte da narrativa de quem somos — mas a leitura externa é algo que é extrínseco a quem a faz.

Seu EP de estreia, Guabiraba Chicago, foi aclamado pela crítica, e você lançou recentemente o single Nena Ácida. Como essas novas etapas de produção autoral influenciam seu processo criativo e sua conexão com o público?
Lançar suas próprias músicas te aproxima das pessoas. É o momento em que elas te acompanham, se aproximam de você, compartilham referências, vivências e conseguem identificar o que as une àquele artista. Isso te alimenta como artista e acaba sendo um impulso criativo.

Se sua vida fosse um set, qual seria a primeira música que tocaria para abrir a pista e qual ficaria guardada para tocar apenas no final da noite?
A primeira: Promised Land – Joe Smooth
A última: Sunny na voz da Vanusa

Acompanhe o trabalho de Paulete Lindacelva
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Fotos: Caia Marvento Ramalho

Ouça a playlist de Paulete Lindacelva na Deezer, Apple Music e Amazon Music


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