Daniel Virgnio

Ele propõe uma revolução silenciosa: transformar a casa de cenário para Instagram em um espaço de afeto e bem-viver real.

Daniel Virgnio nos convida a entender a casa como um corpo vivo, uma extensão de quem somos. À frente do Cafofo do Dani, ele propõe uma relação com o lar que vai além da estética, focando no afeto, no pertencimento e no ‘bem-viver’. Seu trabalho é uma pesquisa sensível sobre como pequenos gestos — da reorganização de um móvel à música que toca ao acordar — podem transformar nossos espaços em territórios de presença e cura. Ele nos ensina a olhar para dentro de casa para, assim, nos reconectarmos com nós mesmos. E é nesse espírito que pedimos ao Dani para criar uma playlist muito especial: a trilha sonora perfeita para um ‘cafofo’ acolhedor e cheio de boas energias, inspirando o bem viver, a alegria, a calma e o significado no dia a dia. Dê o play, leia a entrevista abaixo e permita que a casa também respire com você.

Daniel, no seu trabalho com o “Cafofo do Dani”, você nos convida a ver a casa como um espaço vital de bem-viver e expressão pessoal. Qual é a principal mudança ou o anseio mais forte que você observa na forma como as pessoas buscam hoje se relacionar com seus lares para encontrar mais felicidade, acolhimento e significado no dia a dia?
Olhar para 2025 é perceber que as pessoas estão, mais do que nunca, querendo voltar-se para si e enxergar isso nos espaços em que vivem. No Cafofo do Dani, a gente sempre falou da casa como lugar de bem-viver, mas agora isso virou quase uma urgência coletiva: as pessoas não querem mais morar em casas bonitas para os outros verem; elas querem morar em casas que as reconheçam.

Vejo um anseio muito forte por pertencimento. Por um lar que acolha a rotina real, que abrace as imperfeições, que represente a trajetória и as escolhas de quem vive ali. A estética importa, claro, mas hoje ela vem acompanhada de significado. As pessoas querem se cercar de objetos com história, de cores que emocionam, de texturas que confortam. Querem espaços onde possam descansar, criar, se curar, dançar, existir.

É uma mudança linda, porque transforma a casa em território de afeto e, ao mesmo tempo, de afirmação. O lar deixa de ser só abrigo físico e vira um espelho íntimo da nossa caminhada no mundo.

Falando sobre a casa como um reflexo de quem somos, como o seu novo podcast, ‘Cafofo de Todo Dia’, se conecta com essa busca por um lar com mais alma?
A casa, pra mim, sempre foi mais do que parede, móvel e decoração é espelho da gente, né? O Cafofo de Todo Dia nasce justamente desse desejo de olhar pro lar com mais profundidade, com cuidado, com verdade.
No podcast, a gente conversa sobre o que realmente importa na construção de um espaço: as histórias, as memórias, os vínculos, os aprendizados do dia a dia. Porque um lar com alma não é o mais bonito da revista, é o que faz sentido pra quem vive ali.

E mais do que falar de casa, a gente vai falar também de comportamento de como a gente se relaciona com o nosso morar, dentro e fora dele. Porque morar não é só ocupar um espaço físico, é também habitar a vida com presença.

Então, o Cafofo de Todo Dia se conecta com essa busca ao trazer reflexões, trocas e inspirações que acolhem o que é real. É sobre casa, mas é também sobre identidade, sobre pertencimento, sobre a gente se sentir bem com quem a gente é, e com o lugar onde a gente mora.

Como pesquisador do comportamento humano ligado ao lar, qual é aquele “hábito doméstico” simples, ou talvez uma pequena mudança de perspectiva sobre a casa, que você considera ter o maior impacto positivo no bem-estar, na energia e na harmonia dos moradores?
Para mim, um dos hábitos mais transformadores e que muita gente subestima é olhar para a casa como um corpo vivo. Quando paramos de ver o lar como cenário e passamos a enxergá-lo como extensão da gente mesmo, tudo muda.

Um exemplo simples? A forma como você acorda em casa. Abrir as janelas com intenção, colocar uma música que te acolhe, organizar um cantinho que estava esquecido… são gestos pequenos que têm um impacto enorme na energia do espaço e, consequentemente, na nossa própria energia.

Outro ponto é se permitir mudar, sem esperar grandes reformas. Mudar um móvel de lugar, trocar uma manta de posição, deixar um objeto querido mais à vista. Essas ações sinalizam para o nosso cérebro que a casa está em movimento com a gente, que ela acompanha os nossos ciclos.

No fim das contas, o maior bem-estar vem quando o lar deixa de ser cenário idealizado e vira território de presença.

A música tem um poder imenso de criar e transformar atmosferas. No seu cafofo ideal, ou nos lares que você inspira através do seu trabalho, que tipo de som, artista específico, ou até mesmo o uso intencional do silêncio, você acredita ser fundamental para construir um ambiente acolhedor, inspirador ou propício ao bem-viver e à introspecção?
Eu sempre digo que a música é um dos recursos mais potentes para transformar o clima da casa e, consequentemente, o nosso. No Cafofo, vejo a música como uma ferramenta de cuidado: ela nos ajuda a entrar no ambiente de verdade.

Não tem uma fórmula certa, mas tem intenções. De manhã, por exemplo, gosto de sons mais suaves, como piano instrumental ou vozes mais calmas — algo como Hania Rani ou até Luedji Luna. À noite, algo que embale o corpo e o pensamento: Milton, Gal ou um eletrônico mais leve, tipo James Blake. É sobre sintonizar com o momento.

O ideal de bem-viver em casa pode parecer um desafio para muitos, seja pela correria da vida moderna, por questões financeiras ou pela pressão de certos padrões estéticos. Qual o principal obstáculo que você percebe que as pessoas enfrentam para criar lares mais conectados com seus verdadeiros desejos, e qual seria um primeiro passo acessível para começar a superar isso?
O principal obstáculo que vejo hoje é que muita gente ainda acha que, para ter uma casa com alma, precisa ter muito dinheiro ou seguir um padrão de revista. E isso trava. As pessoas olham para a casa com comparação, e não com escuta. Acabam tentando encaixar um estilo que não tem nada a ver com elas, e aí o lar vira um lugar de cobrança, não de descanso.

O primeiro passo acessível? Parar e se perguntar o que realmente importa para você dentro de casa. É conforto? É silêncio? É ter uma cadeira boa para sentar e respirar? É resgatar uma memória da infância? Isso já direciona o olhar.

Depois disso, pequenos gestos fazem diferença: mudar um móvel de lugar, colocar uma foto que te representa, escolher uma cor que te emociona. Tudo isso é acessível e transforma o jeito que habitamos.

No deepbeep, valorizamos a curadoria que reflete autenticidade e significado. Como você busca inspiração e descobre novas ideias para o bem-viver em casa – seja em objetos com história, em novas rotinas, em formas de organizar o espaço ou na relação com a natureza – que fujam de modismos passageiros e realmente agreguem valor e alma à vida das pessoas?
Para mim, a inspiração de verdade vem da vida cotidiana das pessoas. Eu observo muito: conversas, rotinas, gestos pequenos. Gosto de prestar atenção no que faz alguém se sentir confortável, no que desperta memória, no que ajuda a desacelerar. Isso vale mais do que qualquer tendência. Objetos com história também me tocam; não precisam ser caros ou antigos, mas precisam ter afeto. Pode ser uma peça de família, algo feito à mão ou uma lembrança de viagem. Quando tem significado, muda o clima do espaço.

Na prática, tento sempre fugir da ideia de “casa perfeita” e pensar em “casa possível”. O que cabe no tempo, no bolso e na rotina daquela pessoa, mas sem abrir mão da identidade dela. O valor está aí: em criar um lugar que funcione para a vida real, mas que também tenha alma. No fim, acho que o segredo é escutar mais o que faz sentido para dentro, e não só o que aparece no feed.

Fotos: Derek Fernandes

Links: Cafofo do Dani
Cafofo de Todo Dia

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