
A jornalista que cruza fronteiras não em busca de um furo, mas de conexão, transformando a entrevista em encontro e a reportagem em respiro.
Carol Raimundi ocupa um dos lugares mais desejados do jornalismo: estar frente a frente com os maiores astros da cultura pop global. Mas seu método vai além da pauta oficial. Para ela, uma boa entrevista nasce da pesquisa rigorosa, mas se concretiza no detalhe inesperado, na pergunta que quebra o gelo e revela a pessoa por trás da celebridade. Com as antenas sempre ligadas para histórias ainda não contadas, Carol acredita que cada pessoa é um universo. Seu trabalho, no fim, tem uma missão simples e poderosa: aliviar um sofrimento ou levar um pouco de alegria a quem está do outro lado da tela. Nesta conversa, ela fala sobre bastidores, música como remédio e a sua “playlist de correspondente”, uma trilha que reflete seu olhar sensível e humano, das canções que embalam a pesquisa e a viagem até os hits que acompanham shows e entrevistas pelo mundo. Escute!
Você já entrevistou alguns dos maiores artistas do mundo. Para você, qual é o segredo de uma boa entrevista? É a pesquisa exaustiva, a capacidade de improvisar ou a criação de um espaço de confiança para que o entrevistado se sinta à vontade para ir além do óbvio?
Acho que pesquisar sobre aquela pessoa é fundamental: ver outras entrevistas, para também se familiarizar com o jeito da pessoa falar, tentar descobrir curiosidades sobre a vida, algum detalhe bacana que possa não ter sido tão explorado ainda. Gosto sempre de saber se a pessoa fez algum pronunciamento recente sobre algum assunto polêmico ou se existe algum assunto sensível. Quando você tem bastante informação, fica mais fácil improvisar; assim, o improviso tem mais chance de funcionar. Sempre penso em algo que eu possa fazer para surpreender a pessoa, tirá-la daquela sensação de que já viu tudo das entrevistas, algo que provoque alguma reação. Normalmente, a pessoa gosta de ver que você pensou em algo especialmente para ela. Logo na chegada, gosto de me apresentar, dizer que sou do Brasil, que atravessei o mundo para estar ali e pergunto se a pessoa conhece o Brasil ou comento algo sobre o trabalho mais recente, alguma impressão minha sobre o filme, a música, algo para quebrar o gelo.
Como correspondente e repórter de cultura, seu trabalho muitas vezes é traduzir um artista ou um movimento cultural para o grande público. Qual é o maior desafio nesse processo? É simplificar sem ser superficial, ou encontrar a conexão universal em uma história particular?
Curioso que muita gente acha que fui correspondente, mas eu não fui. Sempre morei no Rio, mas, como viajo muito para fazer essas entrevistas, muita gente tem essa impressão. Acredito que ouvir as pessoas, o público, com cuidado e real interesse é a grande ponte para a gente encontrar nossas semelhanças e descobrir curiosidades sobre nossas diferenças. Procuro fazer perguntas que eu, Ana Carolina, se estivesse em casa assistindo, gostaria de saber as respostas, sempre tentando evitar os clichês e o que todo mundo já sabe. Tentar olhar por um ângulo diferente, lateral, diagonal, da situação pode revelar mais do que olhar para onde todo mundo está olhando. Às vezes, um personagem com uma baita história já dá conta da reportagem inteira.
O mundo dos algoritmos muitas vezes nos empurra para o que já é popular. Como jornalista cultural, como você faz para descobrir as histórias que ainda não estão no radar e convencer que elas merecem destaque, fugindo do ciclo de notícias e dos releases oficiais?
Acho que estar com as antenas ligadas o tempo todo é meu modo de viver. Ouvir de verdade as pessoas, conversar, tentar entender algo mais profundamente… todo mundo tem pauta, cada pessoa é um universo. Investigar os meus incômodos, muitas vezes, me levou a descobrir que eles não eram só meus, e a relevância estava justamente em ser um fenômeno coletivo e, sendo assim, valia uma matéria.
A música é uma pauta recorrente e poderosa em seu trabalho. Qual é a sua relação pessoal com o som? Ele funciona como uma ferramenta de trabalho para entender um período ou um lugar, ou é mais um refúgio para se desconectar da intensidade do jornalismo?
Música para mim é remédio. Em dias de insônia, ansiedade, tristeza. Quando era estudante de jornalismo, trabalhei na gravadora Sony Music e pude entender melhor como funciona esse universo. Aprendi demais. Meu programa preferido é ir a um show. Poder conversar com um grande artista é encantador; falar sobre arte me ajuda a viver.
Uma boa reportagem tem o poder de nos fazer enxergar o mundo de outra forma. Quando você finaliza uma matéria, qual é a principal sensação ou a principal reflexão que você espera ter plantado no espectador?
Eu adoro o momento de ver a matéria no ar. Saber que muitas pessoas estão vendo ao mesmo tempo me dá um frio na barriga. Penso sempre que, se aquela matéria serviu para aliviar o sofrimento de uma pessoa, o trabalho foi feito. Se serviu para alegrar um pouquinho a vida de alguém, eu também me sinto carregada de uma dose imensa de energia. Preciso de umas 24 horas para sair desse “estado de graça”, rs.
Foto (P&B): Alex Takaki
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