
A chama que a resistência mantém acesa. A rapper fala sobre a jornada de 20 anos até seu primeiro disco solo e a importância de nunca desistir.
Com uma trajetória de mais de duas décadas, Stefanie se consolidou como uma das vozes mais respeitadas e consistentes do rap nacional. Por mais de 20 anos, sua caneta se manteve com carga em projetos coletivos icônicos, mas a voz solo era uma promessa aguardada pela cena. Essa promessa se cumpre agora com o álbum BUNMI. Nele, a artista se apresenta por inteiro, sem filtros, em um trabalho que ela define como 100% sua identidade e que contou com a produção de gigantes como Daniel Ganjaman e Grou. Sua música é um ato de diálogo e resistência, uma forma de oferecer conforto e de provar que, mesmo em um cenário de números e algoritmos, “a música sempre vai chegar em quem precisa ouvir”. Nesta conversa, a rapper fala sobre sua jornada e a importância de não desistir. Para mostrar as raízes de onde sua arte brotou, ela compartilha uma playlist com os clássicos do rap nacional que a formaram, uma verdadeira aula de história com os nomes que construíram o gênero no Brasil.
Stefanie, com mais de 20 anos de rap, você afirma: “não larguei mão e minha caneta ainda tem carga”. Olhando para o agora, qual você enxerga ser a principal função da sua “caneta” hoje?
Vejo minha escrita e minhas rimas como uma forma de diálogo. Expresso minhas vivências e espero que minhas palavras cheguem às pessoas como um convite à reflexão, daí cada um sente se se identifica ou não. O que mais tenho ouvido sobre meu álbum é que ele chegou em um momento em que muitas pessoas estavam passando por situações difíceis, e que, de alguma forma, minha arte ajudou e trouxe algum conforto ou inspiração. Saber que minha música pôde tocar, acolher ou despertar algo nelas é muito gratificante para mim. Isso me mostra que vale a pena persistir, continuar criando e sendo fiel à minha voz.
Depois de uma trajetória tão rica em grupos como Rimas & Melodias, o que te moveu a buscar sua voz em um disco solo? O que esse trabalho individual te permitiu expressar que a dinâmica de um coletivo talvez não permitisse?
Comecei a cantar rap no grupo Simples, depois participei do Pau-de-dá-em-Doido, entre outros projetos. Sempre gostei muito de trabalhar no coletivo, porque existe uma troca que é rica demais, de aprendizado e de convivência, mas o que mais me impulsionou a dar esse passo foi as pessoas cobrando um álbum solo. No grupo há a colaboração de vários artistas e, às vezes, algumas ideias acabam não se encaixando. Já no trabalho individual é 100% você, com sua vivência, sua visão e sua identidade. Esse espaço me permitiu mostrar com mais clareza quem eu sou como artista, assumir minhas referências e minhas escolhas estéticas sem filtro. Foi também um desafio, porque carrega uma responsabilidade maior, mas ao mesmo tempo é libertador poder entregar um trabalho que tem a minha cara por inteiro.
Como você enxerga o desafio de fazer com que um trabalho tão pessoal e ancestral encontre espaço em um mundo rápido e guiado por virais?
Vivemos em um momento em que, infelizmente, o nosso trabalho é validado pelos números. Existem vários artistas incríveis que merecem estar em certos espaços, mas a sua arte acaba não chegando por conta dos algoritmos e da falta de oportunidades. Ao mesmo tempo, tenho sentido um movimento bonito, muitas pessoas chegam até mim dizendo que não conheciam meu trabalho e passaram a acompanhar depois de BUNMI. Isso mostra que público existe, que há sede por esse tipo de arte, e que ela encontra caminhos mesmo com tantas barreiras. Por isso acredito que o mais importante é seguir firme, continuar produzindo com o coração e acreditando, porque a música sempre vai chegar em quem precisa ouvir e se identificar com ela.
O disco BUNMI foi produzido por gigantes como Daniel Ganjaman e Grou. Como foi o processo de traduzir suas rimas e sua visão para o universo sonoro que eles ajudaram a construir?
Foi um processo muito agradável, no qual aprendi e cresci bastante como artista. O Ganja e o Grou, além de serem profissionais incríveis que sempre trazem uma visão que potencializa o trabalho, são muito atentos e abertos à escuta. Eu me sentia à vontade para levar minhas ideias, experimentar e sugerir caminhos, e havia sempre um espaço seguro para diálogo. Rolou uma conexão muito boa, eles entendiam o que eu trazia e somavam com o que fazia sentido para potencializar o projeto. Além disso, tudo isso só foi possível porque, na retaguarda, tive o apoio incrível do time da JAMBOX, que gerencia minha carreira há muitos anos. Para que um projeto como esse aconteça, o trabalho em estúdio e o cuidado nos bastidores devem andar lado a lado.
Seu show é uma celebração da sua história e da sua fé. No fim da noite, qual é a principal semente de força ou reflexão que você espera que sua arte plante em quem te assiste?
Pode parecer até clichê, mas é o que eu realmente penso, quero que as pessoas mantenham suas chamas acesas e não desistam dos seus sonhos, independentemente das dificuldades que encontrarem pelo caminho. Um dia de cada vez. Não é fácil, e muitas vezes dói, mas acredito que é justamente nas dificuldades que aprendemos, amadurecemos e descobrimos nossa força. Foram 20 anos de dedicação e resistência para eu conseguir realizar um dos meus maiores sonhos, e cada passo dessa jornada me ensinou algo importante. Por isso, desejo profundamente que todos encontrem coragem para seguir, persistir e acreditar.
Fotos: Thales Cortes
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Agradecimentos: Jambox
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