Amanda Ramalho

O humor como ferramenta para falar da dor. A comunicadora fala sobre a coragem da vulnerabilidade, o poder da identificação e a luta para ser autêntica em um mundo de aparências.

Há mais de oito anos, Amanda Ramalho abriu uma conversa que o Brasil precisava ter. Com o podcast “Esquizofrenoias”, ela transformou sua própria experiência com saúde mental em um serviço de utilidade pública, criando um espaço de acolhimento e, acima de tudo, de “identificação”. Longe do melodrama, sua principal ferramenta para abordar temas pesados é um humor ácido e preciso, uma forma de se sentir segura e permitir que o público possa rir, mesmo quando dói. Mas essa honestidade tem um custo. Em um mundo de aparências, ser uma voz da autenticidade não é uma performance, mas uma “luta diária” e, por vezes, dolorosa. Nesta conversa, a comunicadora fala sobre o poder da vulnerabilidade e a responsabilidade de criar comunidade. Para os momentos de luta, ela compartilha sua “playlist de um dia difícil”, uma seleção que vai da resiliência de Elton John à catarse dos Racionais, provando que a trilha sonora para atravessar o caos pode ser potente e até divertida.

O “Esquizofrenoias” é um projeto pioneiro e corajoso ao trazer conversas sobre saúde mental para o centro da mesa. O que te motivou a criar esse espaço? E o que você aprendeu sobre o poder de uma conversa vulnerável, tanto para quem fala quanto para quem ouve?
Meu interesse pelo tema veio desde os 16 anos, quando comecei meu tratamento. Eu tenho contato com o sofrimento mental desde muito antes disso. Já são oito anos ou mais de podcast e o que eu percebo é que é um serviço prestado. É educação. Aos 16 anos, quando cheguei na escola triste porque tomaria remédio para a cabeça, me sentindo a única, a estranha, uma amiga me perguntou o que estava rolando e eu contei. Ela disse, com toda a normalidade do mundo, que tinha TOC e já se tratava há algum tempo. O Esquizofrenoias é isso, é identificação.

Você consegue tratar de temas muito pesados com uma inteligência e um humor ácido que são muito seus. Para você, qual é o papel do humor ao falar de dor e ansiedade?
Como disse, eu convivo com a dor desde criança e sempre foi dessa maneira que lidei com ela em momentos mais pesados. Dessa forma, me sinto segura em abordar temas difíceis, porque não quero deixar o programa melodramático. Quero que quem se identifique possa rir também.

Seu trabalho é o exato oposto da vida de aparências que as redes sociais muitas vezes nos empurram. Como é, para você, existir nesse ambiente digital sendo uma voz da autenticidade? É uma luta diária contra a pressão pela performance?
Eu não consigo ser de outra maneira. É uma luta contra mim mesma, contra coisas que vivi, ouvi e contra coisas que eu não quero fazer. É doloroso, porque sei exatamente o que precisa ser feito, mas eu não consigo.

A música é uma companheira poderosa para muitos de nós, especialmente nos momentos mais difíceis. Que papel a música tem na sua vida e no seu equilíbrio?
Eu uso para tudo. Sempre fui muito ligada à música. Uso para me motivar, como forma de estar presente, para dias tristes e felizes, para não pensar em nada.

Seu podcast se tornou um porto seguro para muitas pessoas. Quando você começou, você tinha a dimensão do impacto que o seu trabalho teria? E qual é a principal mensagem que você espera que fique para quem te acompanha e se sente menos só ao te ouvir?
Nunca tive a dimensão do tamanho que ele se tornaria, mas sempre tive noção da minha responsabilidade. A ideia central é que ninguém se sinta sozinho, pois somos uma comunidade.



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