Mílian Dolla

A DJ que lê a pista em vez de seguir um script, a criadora que imprime sua verdade nas tendências e a artista que usa a ironia para nos libertar.

Mílian Dolla é um universo criativo em constante expansão. Seja como DJ que comanda a pista, na performance com a dupla Taumkaosaki ou dando vida à marca Panim da Cachorra, todas as suas manifestações partem de um mesmo lugar, o seu. Ela opera com uma liberdade fluida, sem se apegar a gêneros, tendências ou sets pré-definidos. Sua principal ferramenta é a sintonia com o público e sua principal linguagem é a ironia, que ela usa para não se levar a sério e “ousar mais, sem autocensura”. Seu objetivo final, em todas as frentes, é provocar uma sensação de libertação. “Assim como minha arte tem o poder de me desengessar”, diz ela, “quero que ela também provoque isso em quem a recebe”. Nesta conversa, a artista fala sobre processo criativo e autenticidade. Para traduzir seu radar, ela compartilha a “Playlist do Mix Perfeito”, uma seleção que, como seus sets, cria uma narrativa única e inteligente. Ouça e dance!

Mílian, você se manifesta como DJ, na Taumkaosaki e como a mente por trás da marca Panim da Cachorra. Como essas diferentes frentes criativas se conectam? A energia da pista de dança inspira a sua visão como criadora?
Acredito que todos os meus projetos artísticos e processos criativos não apenas se conectam, mas também se complementam. São manifestações em formatos diferentes, mas que nascem de um mesmo universo, o meu. Tudo o que me cerca — minhas vivências, referências, minha lucidez e minha loucura — me inspira a criar o tempo todo. E a pista de dança é sempre uma fonte inesgotável de ideias e inspiração.

Como DJ, você é uma contadora de histórias na pista de dança. Como funciona o seu processo de pesquisa musical? E o que, para você, é o elemento mais importante para criar uma noite memorável, a técnica, a surpresa na seleção ou a sua conexão com a energia do público?
Minha pesquisa musical é fluida e bem diversa, sem apego a gêneros ou BPMs. Se me conecto com uma faixa e consigo imaginá-la na pista, ela entra no meu acervo e espera o momento certo de brilhar. Acredito que, para criar uma noite memorável, a técnica tenha, sim, sua importância, mas valorizo muito mais a conexão com a energia do público, é ela quem me guia na hora de escolher o que tocar. Não costumo preparar muito meus sets; gosto de estar pronta para tudo. Prefiro sentir, no momento, qual parte da minha pesquisa vai se conectar melhor com aquele público e situação, explorando e experimentando até entrar em sintonia com a pista.

Como você, que transita pela música e pela cultura de internet, navega a avalanche de tendências sem perder a identidade?
Não costumo me apegar a tendências, mas também não as ignoro. Se alguma se conecta com o que gosto e acredito, posso até trazer referências dela para o meu trabalho, sempre com o cuidado de imprimir meu toque e minha personalidade, para que ainda assim seja algo único e meu. Acredito que, quando se cria sendo fiel à própria verdade, a chance dessa criação ultrapassar as barreiras do tempo e se tornar atemporal é muito maior. Meu desafio como artista é estar conectada com o que acontece agora, ao mesmo tempo em que me alimento de inspirações do passado que permanecem vivas, sem deixar que a avalanche de informações que recebemos o tempo todo contamine meus processos criativos a ponto de me afastar de quem eu sou e do meu propósito.

O humor e o deboche são a sua principal linguagem para decifrar o mundo. O que essa sua lente irônica te permite enxergar e comunicar sobre o nosso tempo que uma análise “séria” talvez não conseguiria?
Acho que minha lente irônica me permite não me levar tão a sério, e isso, consequentemente, me dá mais liberdade para ser flexível com meu trabalho. Posso brincar, experimentar e ousar mais, sem autocensura. Essa liberdade está totalmente conectada à minha visão de mundo e ao modo como escolho vivenciá-lo.

Seu trabalho, seja na música ou em seus outros projetos, cria um forte senso de comunidade. Qual é a principal conexão ou a principal sensação de pertencimento que você espera que sua arte provoque nas pessoas?
Espero que as pessoas se conectem com meu jeito livre de criar, experimentar e fugir do óbvio. Assim como minha arte tem o poder de me desengessar, quero que ela também provoque isso em quem a recebe. Desejo que quem se identifica com o meu trabalho sinta a certeza de que não há nada mais libertador do que estar confortável sendo quem se é, vestindo, ouvindo, dançando e cantando o que quiser. No fim, acredito que nossa realidade é feita das escolhas e significados que damos a ela.

Acompanhe o trabalho de Mílian Dolla
Mílian Dolla (Instagram)
Taumkaosaki (Instagram)
Panim da Cachorra (Instagram)
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Mílian Dolla (Apple Music)

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